O CACHIMBO DO POETA
(La pipe au poète)
Tristan Corbière
Sou o Cachimbo de um poeta,
Sua ama: que a Besta lhe aquieta.
Quando um sonho cego apanha
A fronte em seu louco trajeto,
Fumego... e ele, no seu teto,
Já não vê as teias de aranha.
... Eu dou-lhe um céu de paisagens:
Nuvens, mar, deserto, miragens;
_ Seu olho morto ali se perde...
E quando a névoa se faz pesada
Crê ver uma sombra passada,
_ E minha boquilha ele morde...
_ Outra tormenta desabrida
Solta-lhe alma, corrente e vida!
... Sinto-me que apago. – Ele dorme –
...............................................................
_ Dorme, pois dorme a Besta lassa.
Traga do sonho o conteúdo...
Pobre amigo!... a fumaça é tudo.
_ Se é certo que tudo é fumaça...
Paris. – Janeiro
(Poema do livro “Os amores amarelos”, São Paulo: Iluminuras, 1996. Introdução, tradução e notas de Marcos Antônio Siscar)
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