terça-feira, 11 de maio de 2010

POESIA/Um poema de Jóis Alberto

ELEGIA*

Jóis Alberto Revorêdo


Na Pedra do Rosário, às margens do Potengi,
A brisa solitária finda em melancólico pôr-do-sol,
Num céu marrom, azul, com tons de avermelhado arrebol.
Um jovem diante do cenário
Louva plantas malditas e vinho ordinário
Em recidivos versos de sentidos desregraddos (ele desconhece
O prazer do sommelier, que degusta o sabor do vinho raro,
Um prazer aristocrático, burguês – e se avalio bem – avaro
E caro).

Surge nova a lua amarela nas águas do negro estuário,
Onde um barco vazio segue sem rumo,
Rente ao mangue lutulento de pungente desvario.

O adolescente cambaleia
Por caminho de crepuscular poesia,
Sem perceber o inexprimível vôo do pássaro,
Presságio de sonhos ruins
Em que formigas procuram o seu coração.

Ansiedade! Pensamento golpeado, turbilhão de sentidos,
Na senda da noite, entre a vida e a morte;
O louco morreu. Outro homem nasceu.
No céu, uma nuvem de rosas,
Vermelhas
E
Amarelas,
Vaporosas,
Caem ao peso do amor.

Quando o túmulo se abre vê-se o mar
- Igual à lápide e epitáfio de poeta –
Um mar de distante planeta
Vê-se um rosto que ampara constelações,
A face do homem morto, que desejava ver
A Flor Azul,
Inacessível aos homens,
Aos poetas de todas as estirpes,
Principalmente os de mais trágicos e românticos solipsismos.

Ponteiros das horas mortas,
Mocidades mortas,
Desaguam no rio, onde o homem, ao mergulhar uma vez mais,
Será outro;
As águas seguirão seu curso normal.

Em outra dimensão, o pescador joga a rede
No mar e puxa a fria lua minguante amarela,
Que flutua sobre a cabeça da bailarina com leque,
Graciosa gravura de ex libris chique.

Um ser humano vagueia flaneur pelas ruas da cidade
A recordar prazeres e excessos de tempos e mentalidades
De farandolagens funambulescas;
De curtições rocambolescas,
De doideiras carnavalescas,
De breguices grotescas,
De artes burlescas,
De aspirações quixotescas,
De culturas bacharelescas,
De presunções livrescas,
E a suportar traumas de crueldades dantescas,
A cabeça erguida, contudo.

*Poema publicado no livro Poetas azuis paixões vermelhas amores amarelos (poesia e prosa), de Jóis Alberto Revorêdo (Natal: Sebo Vermelho, 2003).

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