sábado, 23 de julho de 2011

POESIA/Sem divã, sem anti-Édipo ou "eu tenho um dom de causar consequências/ um ar de criar evidências" (Sérgio Sampaio)

FINGE E ESFINGE


Jóis Alberto


Eu poderia também roubar mulher.
Seduzir solteiras, contudo, é melhor...
Não ajo como libertino, mas com amor.
Primeiro: agir sempre com desprendimento!
Se uma vai, não lamento...
Não, não é fingimento.
Ou é?
Desde a era de Platão a Fernando Pessoa,
Todo mundo sabe: poeta é fingidor.
De tão bem que finge
Acaba diante da esfinge:
Decifra-me ou te devoro!

Peripécias de pretenso don juanismo,
Paixão inútil de feminino bovarismo -
‘A carne é triste, sim, e eu li todos os livros’,
Belo início de poema de Mallarmé -,
Mas, aqui, acabar assim... é herbivorismo:
Bucólica paisagem de cabras e ‘bodes’ a pastar!

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