quarta-feira, 22 de julho de 2009

TELEVISÃO/Arte com Sérgio Britto

Pina Bausch, expressionismo e distanciamento brechtiano


Jóis Alberto


Você conhece Pina Bausch? É uma grande artista, falecida recentemente e que recebeu uma emocionada homenagem póstuma no programa “Arte com Sérgio Britto”, exibido na noite de terça-feira passada (21/07) pela Rede Brasil de TV. Veterano e sempre talentoso ator, grande conhecedor não só do teatro, mas também de outras linguagens artísticas, Sérgio Britto narrou, com a emoção e inteligência de sempre, como teve oportunidade de conhecer de perto o trabalho de Pina Bausch e exibiu alguns vídeos com o desempenho dessa notável artista do teatro e da dança. Um trabalho dos mais criativos, inovadores, com influência do expressionismo, merecedor de elogios de outros gênios da criatividade artística, como Fellini, que a dirigiu no filme “La nave va”. A arte de Pina também está presente em coreografia de “Fale com ela”, de Almodóvar.
Gostei também de conhecer um pouco mais sobre a vida e obra dessa artista. E passei a gostar ainda mais do programa de Sérgio Britto, um artista que tive o prazer de entrevistar para o “Diário de Natal” há cerca de uns 15 anos ou mais, quando eu trabalhava como repórter naquele jornal. Acho que foi uma matéria pra editoria Geral e, por isso, talvez não tenha sido publicada com a minha assinatura. Mas ficou a lembrança e o prazer de ter entrevistado esse ator. Me lembro que a entrevista foi no Centro de Turismo, numa mesa de restaurante. Sérgio Britto tinha praticamente o mesmo visual que apresenta hoje na TV, uma maneira bem educada de falar, elegante, culto, de modo que a visível superioridade cultural dele em relação a mim, simples repórter de província – sem falsa modéstia ! – não impediu que a entrevista transcorresse com muita naturalidade e ensinamentos, o que rendeu um bom texto.
Hoje, decorrido tanto tempo após essa entrevista, tenho o prazer de assistir semanalmente, toda terça-feira à noite, a esse programa de TV. Sérgio Britto continua brilhante, embora evidentemente eu não concorde com todas as opiniões dele. Já discordei em pelo menos duas ocasiões, quando Sérgio opinou que a teoria do distanciamento em Bertold Brecht – embora ele reafirme ser Brecht um grande dramaturgo – estaria ultrapassada, porque o comunismo não existe mais! Não é bem assim, como já mostrou, anteriormente, Anatol Rosenfeld em textos ainda mais brilhantes acerca do teatro épico brechtiano. Dentre as características desse tipo de teatro, figuram o efeito de distanciamento – um dos recursos mais importantes de distanciamento é o de o autor se dirigir ao público através de coros e cantores –; a ironia, a paródia, recursos cênicos-literários e cênicos-musicais.
Há raízes que o ligam ao teatro naturalista, mas o seu antiilusionismo e marxismo atuante separam-no radicalmente do ilusionismo e passivismo daquele movimento. Por sua vez, o antiilusionismo e antipsicologismo dos expressionistas são totalmente renovados na obra de Brecht, despidos do apaixonado idealismo e subjetivismo desta corrente. Brecht absorveu e superou ambas as tendências numa nova síntese.
Voltarei a esse assunto qualquer dia desses.

Nenhum comentário:

Postar um comentário