Com 20 pontos de vantagem, Dilma supera Serra até em SP e RS
A candidata a presidente Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, manteve sua tendência de alta e foi a 49% das intenções de voto. Dilma abriu 20 pontos de vantagem sobre seu principal adversário, José Serra, do PSDB, que está com 29%, segundo pesquisa Datafolha.
Os contratantes do levantamento, realizada nos dias 23 e 24 com 10.948 entrevistas em todo o país, são a Folha de S.Paulo e a Rede Globo. A margem de erro máxima da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Se a eleição fosse hoje, Dilma teria 55% dos votos válidos (os que são dados apenas aos candidatos) e venceria no primeiro turno.
Todas as oscilações nacionais de voto se deram dentro do limite da margem de erro. Dilma tinha 47% na sondagem do dia 20, enquanto Serra estava com 30%. Marina Silva (PV) manteve-se em 9%. Há 4% que dizem votar em branco, nulo ou em nenhum. E 8% estão indecisos. Os demais candidatos não pontuaram.
O novo levantamento também indica que Dilma lidera agora em segmentos antes redutos de Serra. A petista passou o tucano em São Paulo, no Rio Grande do Sul e no Paraná e entre os eleitores com maior faixa de renda.
Em São Paulo — estado governado por Serra até abril e por tucanos há 16 anos —, Dilma saiu de 34% na semana passada e está com 41% agora. O ex-governador caiu de 41% para 36%. Na capital paulista, governada por Gilberto Kassab (DEM), aliado de Serra, ela tem 41% e ele, 35%.
Já no Rio Grande do Sul, a candidata saiu de 35% e foi a 43%. Já Serra caiu de 43% para 39% entre os gaúchos. Serra se mantém ainda à frente em alguns poucos estratos do eleitorado. Por exemplo, entre os eleitores de Curitiba, capital do Paraná, onde registra 40% contra 31% de sua adversária direta.
Bolsões
O avanço da candidata da coligação Para o Brasil Seguir Mudando ocorre também em “bolsões serristas”. No levantamento de 9 a 12 deste mês, Serra liderava entre os curitibanos com 43% contra 24% de Dilma, uma vantagem de 19 pontos. Agora, a diferença caiu para nove pontos.
Quando se observam regiões do país, a candidata do PT lidera em todas, inclusive no Sul. Na semana passada, ela estava tecnicamente empatada com Serra, mas numericamente atrás: tinha 38% contra 40% do tucano. Agora, a situação se inverteu, com Dilma indo a 43% e o tucano deslizando para 36% entre eleitores sulistas.
2º turno
Como reflexo de seu desempenho geral, Dilma também ampliou a vantagem num eventual segundo turno. Saiu de 53% na semana passada e está com 55%. Serra oscilou de 39% para 36%. Ampliou-se a distância — que era de 14 — para 19 pontos.
Outro dado relevante e que indica um mau sinal para o tucano é a taxa de rejeição. Dilma é rejeitada por 19% dos eleitores, taxa que se mantém estável desde maio. Já Serra está agora com 29% (eram 27% semana passada) e chega a seu maior percentual neste ano.
Na pesquisa espontânea, quando os eleitores não escolhem os nomes de uma lista de candidatos, Dilma foi a 35% contra 18% de Serra. No levantamento anterior, os percentuais eram 31% e 17%, respectivamente. A pesquisa está registrada no TSE sob o número 25.473/2010.
Fonte : Redação do site www.vermelho.org.br, com informações da Folha de S.Paulo
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010
POLÍTICA/ Colapso do projeto neoliberal
"O EMPATE TÉCNICO DE SERRA
Datafolha: tucano tem 29% das intenções de voto e 29% de rejeição.Está empatado tecnicamente com ele mesmo nesse aspecto.Dilma, com 49% de apoio, abre 20 pontos de vantagem e lidera em todas as regiões, de Norte ao Sul. A candidata do PT virou o jogo no RS , onde o tucano ainda liderava, e abriu 5 pontos de vantagem em SP, cidadela tradicional do PSDB. Entre as capitais, Serra só lidera, ainda, em Curitiba. Sua última linha de resistência, agora, é não perder para o próprio índice de rejeição. Tarefa exceto por um desastre de proporções ferroviárias, arquitetado pelo condomínio midiático-demotucano, a sorte da disputa, seja no 1º ou no 2º turno, está selada. O que avulta na sova federal sofrida pelo candidatura demotucana, porém, é que ela não pode ser debitada exclusivamente ao ex-governador de SP. Embora, segundo a conservadora revista The Economist, "o sr. Serra pareça insípido, exceto quando sorri, aí se torna alarmante", há algo mais que antipatia nesse revés. A dimensão histórica do naufrágio demotucano foi brilhantemente resumida pelo professor José Fiori, em seu recente artigo 'Requiescat in pace'. Sua lapidar exposição, é forçoso reconhecer, sepulta o PSDB de Serra e Fernando Henrique, mas embute também desafios para a esquerda petista --e não são pequenos. Um trecho: "...o que mais chama a atenção não é a derrota em si mesma, é a anorexia ideológica dos dois últimos herdeiros da "terceira via". Não se trata de incompetência pessoal, nem de um problema de imagem, se trata do colapso final de um projeto político-ideológico eclético e anódino que acabou de maneira inglória: o projeto do neoliberalismo social-democrata. Que repouse em paz !"
(Fonte: Carta Maior em 26-08-2010)
Datafolha: tucano tem 29% das intenções de voto e 29% de rejeição.Está empatado tecnicamente com ele mesmo nesse aspecto.Dilma, com 49% de apoio, abre 20 pontos de vantagem e lidera em todas as regiões, de Norte ao Sul. A candidata do PT virou o jogo no RS , onde o tucano ainda liderava, e abriu 5 pontos de vantagem em SP, cidadela tradicional do PSDB. Entre as capitais, Serra só lidera, ainda, em Curitiba. Sua última linha de resistência, agora, é não perder para o próprio índice de rejeição. Tarefa exceto por um desastre de proporções ferroviárias, arquitetado pelo condomínio midiático-demotucano, a sorte da disputa, seja no 1º ou no 2º turno, está selada. O que avulta na sova federal sofrida pelo candidatura demotucana, porém, é que ela não pode ser debitada exclusivamente ao ex-governador de SP. Embora, segundo a conservadora revista The Economist, "o sr. Serra pareça insípido, exceto quando sorri, aí se torna alarmante", há algo mais que antipatia nesse revés. A dimensão histórica do naufrágio demotucano foi brilhantemente resumida pelo professor José Fiori, em seu recente artigo 'Requiescat in pace'. Sua lapidar exposição, é forçoso reconhecer, sepulta o PSDB de Serra e Fernando Henrique, mas embute também desafios para a esquerda petista --e não são pequenos. Um trecho: "...o que mais chama a atenção não é a derrota em si mesma, é a anorexia ideológica dos dois últimos herdeiros da "terceira via". Não se trata de incompetência pessoal, nem de um problema de imagem, se trata do colapso final de um projeto político-ideológico eclético e anódino que acabou de maneira inglória: o projeto do neoliberalismo social-democrata. Que repouse em paz !"
(Fonte: Carta Maior em 26-08-2010)
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
POESIA/ Texto de Floriano Martins
COSTELAS DE EMILE BRONTË
O teu sorriso ia desaparecendo no fundo de meu olhar.
Aos poucos já não distinguia os acenos de tua memória.
Eu disse que viria quando o sol te ensinasse a brilhar,
porém as nuvens foram me guiando para um outro ninho de escombros.
Um pequeno mercado de cicatrizes. Noite recostada em uma árvore.
A pele abandonando os cuidados com a vida que ainda guarda em si.
O tempo remodelando as sombras esquecidas sob os corpos.
A dor se aproxima como um raio. Já não escuto mais nada.
Deixo a tua mão sobre meu peito, sem saber ao certo o que ainda podes fazer por mim.
Livro-me por um segundo ou dois do mistério da morte,
mas logo recupero as vozes confiscadas por antigos presságios.
Jamais dissemos o nome do deus que faltou com sua palavra.
Aos poucos já não distinguia as cores de tua ausência.
________________________________________
COSTILLAS DE EMILE BRONTË
Tu sonrisa iba desapareciendo en el fondo de mi mirada.
Al rato ya no distinguía los gestos de tu memoria.
Yo dije que vendría cuando el sol te enseñase a brillar,
sin embargo las nubes me fueron guiando hacia otro nido de escombros.
Un pequeño mercado de cicatrices. Noche recostada en un árbol.
La piel abandonando los cuidados con la vida que aun guarda en sí.
El tiempo remodelando las sombras olvidadas bajo los cuerpos.
El dolor se aproxima como un rayo. Ya no escucho más nada.
Dejo tu mano sobre mi pecho, sin saber de verdad lo que aun puedes hacer por mí.
Me libro por un segundo o dos del misterio de la muerte,
mas pronto recupero las voces confiscadas por antiguos presagios.
Jamás dijimos el nombre del dios que faltó con su palabra.
Al rato ya no distinguía los colores de tu ausencia.
________________________________________
poema & fotografía | floriano martins
traducción | gladys mendía
O teu sorriso ia desaparecendo no fundo de meu olhar.
Aos poucos já não distinguia os acenos de tua memória.
Eu disse que viria quando o sol te ensinasse a brilhar,
porém as nuvens foram me guiando para um outro ninho de escombros.
Um pequeno mercado de cicatrizes. Noite recostada em uma árvore.
A pele abandonando os cuidados com a vida que ainda guarda em si.
O tempo remodelando as sombras esquecidas sob os corpos.
A dor se aproxima como um raio. Já não escuto mais nada.
Deixo a tua mão sobre meu peito, sem saber ao certo o que ainda podes fazer por mim.
Livro-me por um segundo ou dois do mistério da morte,
mas logo recupero as vozes confiscadas por antigos presságios.
Jamais dissemos o nome do deus que faltou com sua palavra.
Aos poucos já não distinguia as cores de tua ausência.
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COSTILLAS DE EMILE BRONTË
Tu sonrisa iba desapareciendo en el fondo de mi mirada.
Al rato ya no distinguía los gestos de tu memoria.
Yo dije que vendría cuando el sol te enseñase a brillar,
sin embargo las nubes me fueron guiando hacia otro nido de escombros.
Un pequeño mercado de cicatrices. Noche recostada en un árbol.
La piel abandonando los cuidados con la vida que aun guarda en sí.
El tiempo remodelando las sombras olvidadas bajo los cuerpos.
El dolor se aproxima como un rayo. Ya no escucho más nada.
Dejo tu mano sobre mi pecho, sin saber de verdad lo que aun puedes hacer por mí.
Me libro por un segundo o dos del misterio de la muerte,
mas pronto recupero las voces confiscadas por antiguos presagios.
Jamás dijimos el nombre del dios que faltó con su palabra.
Al rato ya no distinguía los colores de tu ausencia.
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poema & fotografía | floriano martins
traducción | gladys mendía
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA/Física para poetas
Por Jóis Alberto
“Física para poetas – Uma forma diferente de conhecer a Física” foi o título do mini curso, do qual eu participei dentro da programação geral da 62ª Reunião Anual da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada na semana passada (25 a 30/07/2010) no Campus central da UFRN, em Natal (RN). O curso foi ministrado pelo professor Adilson de Oliveira, da UFScar – Universidade Federal de São Carlos (SP) e contou com a participação de cerca de 30 inscritos, estudantes não só de Física mas também de outras áreas – como é o meu caso que atualmente concluo uma segunda graduação, desta vez em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas; e sou mestrando em Ciências Sociais, pela UFRN.
O mini curso teve como objetivo motivar o interesse pela Física, usando novas formas de divulgação científica. No caso, numa abordagem sem o uso de conceitos matemáticos profundos para mostrar que é possível motivar pessoas a entenderem Física, ao mesmo tempo que procura desmistificar o caráter de disciplina difícil e pouco atraente. O uso da metáfora foi um dos recursos metodológicos utilizados pelo professor, procurando sempre fazer uma conexão das idéias da Física com outras áreas do conhecimento, em particular a Arte e a Música, com uso de muitas imagens e sons no datashow da sala.
Ao final, foi feita uma avaliação do curso em questionário da SBPC, além de o professor ter aberto para comentários. Eu elogiei o mini curso, disse que o evento havia atendido às minhas expectativas, porém achei que faltou mais poesia criada por poetas, já que o professor usou muitas letras de música, em especial de Gilberto Gil e de Caetano Veloso, que, é claro, mais do que letristas, são dois grandes poetas contemporâneos. O professor justificou que o curso tem esse título, mas a intenção maior é de abordar essencialmente a Física, o que compreendi, afinal se prevalecesse a literatura teria que ter outro título: Poesia para Físicos, por exemplo... Sugeri alguns poetas brasileiros que abordam conceitos de matemática e física em alguns dos seus trabalhos. Recomendei, em especial, o nosso grande surrealista Murilo Mendes...
No Brasil, além do competente e talentoso professor Adilson de Oliveira, outros têm usado esse recurso de divulgação científica para um público mais amplo, dentre os quais um dos mais famosos é Marcelo Gleiser, a quem o professor Adilson de Oliveira – colunista no site do Instituto Ciência Hoje (http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/fisica-sem-misterio) nada deixa a dever. Na minha modesta opinião de estudante, outro nome que se destaca na divulgação científica para um público mais amplo, mais interdisciplinar, é do engenheiro e físico Luiz Pinguelli Rosa.
“Física para poetas – Uma forma diferente de conhecer a Física” foi o título do mini curso, do qual eu participei dentro da programação geral da 62ª Reunião Anual da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada na semana passada (25 a 30/07/2010) no Campus central da UFRN, em Natal (RN). O curso foi ministrado pelo professor Adilson de Oliveira, da UFScar – Universidade Federal de São Carlos (SP) e contou com a participação de cerca de 30 inscritos, estudantes não só de Física mas também de outras áreas – como é o meu caso que atualmente concluo uma segunda graduação, desta vez em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas; e sou mestrando em Ciências Sociais, pela UFRN.
O mini curso teve como objetivo motivar o interesse pela Física, usando novas formas de divulgação científica. No caso, numa abordagem sem o uso de conceitos matemáticos profundos para mostrar que é possível motivar pessoas a entenderem Física, ao mesmo tempo que procura desmistificar o caráter de disciplina difícil e pouco atraente. O uso da metáfora foi um dos recursos metodológicos utilizados pelo professor, procurando sempre fazer uma conexão das idéias da Física com outras áreas do conhecimento, em particular a Arte e a Música, com uso de muitas imagens e sons no datashow da sala.
Ao final, foi feita uma avaliação do curso em questionário da SBPC, além de o professor ter aberto para comentários. Eu elogiei o mini curso, disse que o evento havia atendido às minhas expectativas, porém achei que faltou mais poesia criada por poetas, já que o professor usou muitas letras de música, em especial de Gilberto Gil e de Caetano Veloso, que, é claro, mais do que letristas, são dois grandes poetas contemporâneos. O professor justificou que o curso tem esse título, mas a intenção maior é de abordar essencialmente a Física, o que compreendi, afinal se prevalecesse a literatura teria que ter outro título: Poesia para Físicos, por exemplo... Sugeri alguns poetas brasileiros que abordam conceitos de matemática e física em alguns dos seus trabalhos. Recomendei, em especial, o nosso grande surrealista Murilo Mendes...
No Brasil, além do competente e talentoso professor Adilson de Oliveira, outros têm usado esse recurso de divulgação científica para um público mais amplo, dentre os quais um dos mais famosos é Marcelo Gleiser, a quem o professor Adilson de Oliveira – colunista no site do Instituto Ciência Hoje (http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/fisica-sem-misterio) nada deixa a dever. Na minha modesta opinião de estudante, outro nome que se destaca na divulgação científica para um público mais amplo, mais interdisciplinar, é do engenheiro e físico Luiz Pinguelli Rosa.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
POESIA/Um poema de Floriano Martins y Viviane Santana Paulo
L U V N I S
argolas de espera me arrastam
ou somos nós que as arrastamos? criamos estes aros ?
me solto do não saber do abandono para cair
no falso que invento todo esse tempo
e as pequenas formas do cotidiano que a gente não percebe
e que estão por aí tão leves vozes ao vento
a noite amiúda os truques de nossa busca
ou somos nós que nos despistamos?
ao mastigar a engrenagem dos ecos
deixamos que soletrem em nosso íntimo as imagens
que reservamos às ilusões mais comuns
a noite sussurra como uma lâmina em minha pele
e me desvio do real
para te encontrar iniciando as formas
grifando os pronomes diante dos verbos
não sou maiúscula me desfaço dos pontos e vírgulas
e me atiro no poço que a paixão enche
de querer de busca de sede de pressa
de dor de cabeça de naipes de coisa indecifrável
de inédito dito exorbitado demandamos
a farsa da lua que mostra algo outro
o perspectivo impostor das sombras
o embuste de nossos corpos distantes
trabalhamos árduos para sermos a antera desta
ilusão e as pequenas formas do cotidiano que a gente não percebe
e que estão por aí tão leves gota de suor de espera
de indagação se derramando nas teclas do pensado
e trago a tua voz para dentro da noite
para o centro da trama em que tudo se esquece
deixo tuas palavras crescerem no interior desse mundo perdido
o corpo descarnado da memória
a luz esmagada pelas sombras
as janelas retorcidas impedindo que qualquer coisa entre ou saia
trago a tua voz para que se revire toda
como a pedra inflamada de suores negros
e ouço o silêncio aflito dos móveis pela casa inteira
deixo a voz silabar vultos nos espelhos
não quero escutar a distância de nossos corpos
mas as raias da palma da mão coberta de palavras
sublinhando seu peso nas fendas do que criamos
colho a solidão de cada sala vazia
para desenhá-la no vaso sobre a cômoda do que não
se faz necessário
ou para ruminá-la com os aros os ecos o silêncio a distância
é preciso continuar dilatando os poros na pele das horas
resgatar as pálpebras fechadas ante o sentir
e deixar de flagrar no espelho a vida de um reflexo de lâmpada
acesa na calçada que continuou indiferente
minha pele se destaca assim abrindo um lírio dentro da noite
e vou buscar um novo sítio para a mobília extraviada
intuindo o cheiro com que se revelam as novas sobras do vivido
essa miudeza com que por vezes esquecemos de celebrar o instante
quantas vezes o verbo quer ir e vir de uma face a outra do abismo ?
quantas vezes dizemos às pequenas formas do cotidiano
que não se ausentem de si ?
________________________________________
L U V N I S
argollas de espera me arrastran
o somos nosotros que las arrastramos? creamos estos aros?
me suelto del no saber del abandono para caer
en lo falso que invento todo este tiempo
y las pequeñas formas de lo cotidiano que no percibimos
y que están por ahí tan leves voces al viento
la noche aminora las trampas de nuestra búsqueda
o somos nosotros que nos despistamos?
al masticar el engranaje de los ecos
dejamos que deletreen en nuestro interior las imágenes
que reservamos a las ilusiones más comunes
la noche susurra como una lámina en mi piel
y me desvío de lo real
para encontrarte iniciando las formas
subrayando los pronombres delante de los verbos
no soy mayúscula me deshago de los puntos y comas
y me lanzo en el pozo que la pasión llena
de querer de búsqueda de sed de prisa
de dolor de cabeza de naipes de cosa indescifrable
de inédito dicho exorbitado
requerimos la farsa de la luna que muestra algo otro
lo perspectivo impostor de las sombras
el embuste de nuestros cuerpos distantes
trabajamos arduo para ser la antera de esta ilusión
y las pequeñas formas de lo cotidiano que no percibimos
que están ahí tan leves gota de sudor de espera
de indagación derramándose en las teclas de lo pensado
y trago tu voz hacia dentro de la noche
hacia el centro de la trama en que todo se olvida
dejo tus palabras crecer en el interior de ese mundo perdido
el cuerpo descarnado de la memoria
la luz oprimida por las sombras
las ventanas retorcidas impidiendo que cualquier cosa entre o salga
trago tu voz para que se revire toda
como la piedra inflamada de sudores negros
y oigo el silencio afligido de los muebles por la casa entera
dejo la voz silabear bultos en los espejos
no quiero escuchar la distancia de nuestros cuerpos
sino las rayas de la palma de la mano cubierta de palabras
subrayando su peso en las hendiduras de lo que creamos
tomo la soledad de cada sala vacía
para dibujarla en el vaso sobre la cómoda de lo que no
se hace necesario
o para rumiarla con los aros los ecos el silencio la distancia
es necesario continuar dilatando los poros en la piel de las horas
rescatar los párpados cerrados ante el sentir
y dejar de flagrar en el espejo la vida de un reflejo de lámpara
encendida en la calle que continuó indiferente
mi piel se destaca así abriendo un lirio dentro de la noche
y voy a buscar un nuevo sitio para el mobiliario extraviado
intuyendo el olor con que se revelan las nuevas sobras de lo vivido
esa pequeñez con que a veces olvidamos celebrar el instante
cuántas veces el verbo quiere ir y venir de una cara a otra del abismo?
cuántas veces dijimos a las pequeñas formas de lo cotidiano
que no se ausenten de sí?
________________________________________
poema | floriano martins y viviane santana paulo
imágenes | floriano martins
traducción | gladys mendía
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argolas de espera me arrastam
ou somos nós que as arrastamos? criamos estes aros ?
me solto do não saber do abandono para cair
no falso que invento todo esse tempo
e as pequenas formas do cotidiano que a gente não percebe
e que estão por aí tão leves vozes ao vento
a noite amiúda os truques de nossa busca
ou somos nós que nos despistamos?
ao mastigar a engrenagem dos ecos
deixamos que soletrem em nosso íntimo as imagens
que reservamos às ilusões mais comuns
a noite sussurra como uma lâmina em minha pele
e me desvio do real
para te encontrar iniciando as formas
grifando os pronomes diante dos verbos
não sou maiúscula me desfaço dos pontos e vírgulas
e me atiro no poço que a paixão enche
de querer de busca de sede de pressa
de dor de cabeça de naipes de coisa indecifrável
de inédito dito exorbitado demandamos
a farsa da lua que mostra algo outro
o perspectivo impostor das sombras
o embuste de nossos corpos distantes
trabalhamos árduos para sermos a antera desta
ilusão e as pequenas formas do cotidiano que a gente não percebe
e que estão por aí tão leves gota de suor de espera
de indagação se derramando nas teclas do pensado
e trago a tua voz para dentro da noite
para o centro da trama em que tudo se esquece
deixo tuas palavras crescerem no interior desse mundo perdido
o corpo descarnado da memória
a luz esmagada pelas sombras
as janelas retorcidas impedindo que qualquer coisa entre ou saia
trago a tua voz para que se revire toda
como a pedra inflamada de suores negros
e ouço o silêncio aflito dos móveis pela casa inteira
deixo a voz silabar vultos nos espelhos
não quero escutar a distância de nossos corpos
mas as raias da palma da mão coberta de palavras
sublinhando seu peso nas fendas do que criamos
colho a solidão de cada sala vazia
para desenhá-la no vaso sobre a cômoda do que não
se faz necessário
ou para ruminá-la com os aros os ecos o silêncio a distância
é preciso continuar dilatando os poros na pele das horas
resgatar as pálpebras fechadas ante o sentir
e deixar de flagrar no espelho a vida de um reflexo de lâmpada
acesa na calçada que continuou indiferente
minha pele se destaca assim abrindo um lírio dentro da noite
e vou buscar um novo sítio para a mobília extraviada
intuindo o cheiro com que se revelam as novas sobras do vivido
essa miudeza com que por vezes esquecemos de celebrar o instante
quantas vezes o verbo quer ir e vir de uma face a outra do abismo ?
quantas vezes dizemos às pequenas formas do cotidiano
que não se ausentem de si ?
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L U V N I S
argollas de espera me arrastran
o somos nosotros que las arrastramos? creamos estos aros?
me suelto del no saber del abandono para caer
en lo falso que invento todo este tiempo
y las pequeñas formas de lo cotidiano que no percibimos
y que están por ahí tan leves voces al viento
la noche aminora las trampas de nuestra búsqueda
o somos nosotros que nos despistamos?
al masticar el engranaje de los ecos
dejamos que deletreen en nuestro interior las imágenes
que reservamos a las ilusiones más comunes
la noche susurra como una lámina en mi piel
y me desvío de lo real
para encontrarte iniciando las formas
subrayando los pronombres delante de los verbos
no soy mayúscula me deshago de los puntos y comas
y me lanzo en el pozo que la pasión llena
de querer de búsqueda de sed de prisa
de dolor de cabeza de naipes de cosa indescifrable
de inédito dicho exorbitado
requerimos la farsa de la luna que muestra algo otro
lo perspectivo impostor de las sombras
el embuste de nuestros cuerpos distantes
trabajamos arduo para ser la antera de esta ilusión
y las pequeñas formas de lo cotidiano que no percibimos
que están ahí tan leves gota de sudor de espera
de indagación derramándose en las teclas de lo pensado
y trago tu voz hacia dentro de la noche
hacia el centro de la trama en que todo se olvida
dejo tus palabras crecer en el interior de ese mundo perdido
el cuerpo descarnado de la memoria
la luz oprimida por las sombras
las ventanas retorcidas impidiendo que cualquier cosa entre o salga
trago tu voz para que se revire toda
como la piedra inflamada de sudores negros
y oigo el silencio afligido de los muebles por la casa entera
dejo la voz silabear bultos en los espejos
no quiero escuchar la distancia de nuestros cuerpos
sino las rayas de la palma de la mano cubierta de palabras
subrayando su peso en las hendiduras de lo que creamos
tomo la soledad de cada sala vacía
para dibujarla en el vaso sobre la cómoda de lo que no
se hace necesario
o para rumiarla con los aros los ecos el silencio la distancia
es necesario continuar dilatando los poros en la piel de las horas
rescatar los párpados cerrados ante el sentir
y dejar de flagrar en el espejo la vida de un reflejo de lámpara
encendida en la calle que continuó indiferente
mi piel se destaca así abriendo un lirio dentro de la noche
y voy a buscar un nuevo sitio para el mobiliario extraviado
intuyendo el olor con que se revelan las nuevas sobras de lo vivido
esa pequeñez con que a veces olvidamos celebrar el instante
cuántas veces el verbo quiere ir y venir de una cara a otra del abismo?
cuántas veces dijimos a las pequeñas formas de lo cotidiano
que no se ausenten de sí?
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poema | floriano martins y viviane santana paulo
imágenes | floriano martins
traducción | gladys mendía
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quarta-feira, 21 de julho de 2010
LITERATURA/Poesia surrealista
Poeta Floriano Martins, um dos maiores divulgadores da poesia surrealista do Brasil e países de língua espanhola, participa de Feira Internacional do Livro, de Lima
Um dos grandes especialistas no Brasil em poesia surrealista e literatura de língua espanhola, o poeta e ensaísta cearense Floriano Martins, de Fortaleza, é um dos convidados da 15ª FIL- Feria Internacional del Libro 2010, que será realizada neste final de semana em Lima, Peru, numa promoção da Câmara Peruana do Livro. O evento reúne artistas e intelectuais do Peru, Brasil, Equador, México e Espanha. A abertura será às 20h do sábado (24/07/2010) com a mesa redonda “Cruzando fronteiras: oportunidades do mercado editorial”. Os trabalhos continuarão no domingo com conferência sobre a integração dos mercados editorais da América do Sul e exibição do vídeo “Secreta morada”, de Floriano Martins.
Autor do livro “O Começo da Busca – O Surrealismo na poesia da América Latina” (São Paulo: Escrituras, 2001), dentre outros títulos, Floriano Martins desenvolve um trabalho importantíssimo de divulgação da poesia em livros e na internet, como por exemplo a revista digital Agulha, que ele editou com o poeta Claudio Willer. Atualmente, além de participar com conferencista de eventos literários no Brasil e exterior, Martins coordena o projeto editorial Banda Hispânica, do Jornal de Poesia.
Dentre os poetas que participam da antologia “O Começo da Busca...”, destacam-se Aldo Pellegrini, César Moro, Juan Calzadilla, Raul Henao, Roberto Piva, Sérgio Lima – estes dois últimos figuram entre os mais cultos e criativos poetas surrealistas do Brasil. De Roberto Piva, recentemente falecido em São Paulo, publico aqui no blog um dos poemas dele que constam dessa bela antologia:
Poema vertigem
Roberto Piva
Eu sou a viagem de ácido nos barcos da noite
Eu sou o garoto que se masturba na montanha
Eu sou tecnopagão
Eu sou Reich, Ferenczi & Jung
Eu sou o Eterno Retorno
Eu sou o espaço cibernético
Eu sou a floresta virgem das garotas convulsivas
Eu sou o disco voador tatuado
Eu sou o garoto e a garota Casa Grande & Senzala
Eu sou a orgia com o garoto loiro e sua
Namorada de vagina colorida (ele vestia a
calcinha dela e dançava feito Shiva no meu corpo)
Eu sou o nômade do Orgônio
Eu sou a Ilha de Veludo
Eu sou a Invenção de Orfeu
Eu sou os olhos pescadores
Eu sou o Tambor do Xamã (& o Xamã coberto
De pele e andrógino)
Eu sou o beijo de Urânio de Al Capone
Eu sou uma metralhadora em estado de Graça
Eu sou a pomba-gira do Absoluto
*****XX*****
15ª FIL – Feria Internacional del Libro – Lima, Perú - 2010
Presencia de Floriano Martins (Brasil)
Sábado 24/07 – 20h00 - Sala de Usos Múltiples
BRASIL – ECUADOR – ESPAÑA – PERÚ
III Encuentro Nacional de Editores – Mesa redonda sudamericana
“Cruzando fronteras: Oportunidades de mercado editorial”
Participan: Floriano Martins, Fabián Luzuriaga, John Soldwedel
Organizan: Centro Cultural del España, Cámara Peruana del Libro, Embajada de Ecuador
Auspicia: Borrador Editores
Domingo 25/07 – 19h00 - 19h50 – Sala de Usos Múltiples
Conferencia: “Realidades y perspectivas de la integración de los mercados editoriales sur americanos”
Domingo 25/07 – 20h15 - 21h15 – Sala Ciro Alegría
Presentación del video “Secreta morada”, de Floriano Martins (Brasil) y la banda sonora del grupo Cabezas de Cera (México) – Lectura de poemas con la participación de Grazia Ojeda del Arco
Conversatorio sobre libros y el Proyecto Editorial Banda Hispánica
Presentación de Escritura Conquistada - Conversación con poetas de Latinoamérica - tomos I y II
Participación de Hildebrando Pérez Grande
Um dos grandes especialistas no Brasil em poesia surrealista e literatura de língua espanhola, o poeta e ensaísta cearense Floriano Martins, de Fortaleza, é um dos convidados da 15ª FIL- Feria Internacional del Libro 2010, que será realizada neste final de semana em Lima, Peru, numa promoção da Câmara Peruana do Livro. O evento reúne artistas e intelectuais do Peru, Brasil, Equador, México e Espanha. A abertura será às 20h do sábado (24/07/2010) com a mesa redonda “Cruzando fronteiras: oportunidades do mercado editorial”. Os trabalhos continuarão no domingo com conferência sobre a integração dos mercados editorais da América do Sul e exibição do vídeo “Secreta morada”, de Floriano Martins.
Autor do livro “O Começo da Busca – O Surrealismo na poesia da América Latina” (São Paulo: Escrituras, 2001), dentre outros títulos, Floriano Martins desenvolve um trabalho importantíssimo de divulgação da poesia em livros e na internet, como por exemplo a revista digital Agulha, que ele editou com o poeta Claudio Willer. Atualmente, além de participar com conferencista de eventos literários no Brasil e exterior, Martins coordena o projeto editorial Banda Hispânica, do Jornal de Poesia.
Dentre os poetas que participam da antologia “O Começo da Busca...”, destacam-se Aldo Pellegrini, César Moro, Juan Calzadilla, Raul Henao, Roberto Piva, Sérgio Lima – estes dois últimos figuram entre os mais cultos e criativos poetas surrealistas do Brasil. De Roberto Piva, recentemente falecido em São Paulo, publico aqui no blog um dos poemas dele que constam dessa bela antologia:
Poema vertigem
Roberto Piva
Eu sou a viagem de ácido nos barcos da noite
Eu sou o garoto que se masturba na montanha
Eu sou tecnopagão
Eu sou Reich, Ferenczi & Jung
Eu sou o Eterno Retorno
Eu sou o espaço cibernético
Eu sou a floresta virgem das garotas convulsivas
Eu sou o disco voador tatuado
Eu sou o garoto e a garota Casa Grande & Senzala
Eu sou a orgia com o garoto loiro e sua
Namorada de vagina colorida (ele vestia a
calcinha dela e dançava feito Shiva no meu corpo)
Eu sou o nômade do Orgônio
Eu sou a Ilha de Veludo
Eu sou a Invenção de Orfeu
Eu sou os olhos pescadores
Eu sou o Tambor do Xamã (& o Xamã coberto
De pele e andrógino)
Eu sou o beijo de Urânio de Al Capone
Eu sou uma metralhadora em estado de Graça
Eu sou a pomba-gira do Absoluto
*****XX*****
15ª FIL – Feria Internacional del Libro – Lima, Perú - 2010
Presencia de Floriano Martins (Brasil)
Sábado 24/07 – 20h00 - Sala de Usos Múltiples
BRASIL – ECUADOR – ESPAÑA – PERÚ
III Encuentro Nacional de Editores – Mesa redonda sudamericana
“Cruzando fronteras: Oportunidades de mercado editorial”
Participan: Floriano Martins, Fabián Luzuriaga, John Soldwedel
Organizan: Centro Cultural del España, Cámara Peruana del Libro, Embajada de Ecuador
Auspicia: Borrador Editores
Domingo 25/07 – 19h00 - 19h50 – Sala de Usos Múltiples
Conferencia: “Realidades y perspectivas de la integración de los mercados editoriales sur americanos”
Domingo 25/07 – 20h15 - 21h15 – Sala Ciro Alegría
Presentación del video “Secreta morada”, de Floriano Martins (Brasil) y la banda sonora del grupo Cabezas de Cera (México) – Lectura de poemas con la participación de Grazia Ojeda del Arco
Conversatorio sobre libros y el Proyecto Editorial Banda Hispánica
Presentación de Escritura Conquistada - Conversación con poetas de Latinoamérica - tomos I y II
Participación de Hildebrando Pérez Grande
segunda-feira, 5 de julho de 2010
ARTIGO DE PABLO CAPISTRANO/Copa 2010
Poderia ter sido pior.
Pablo Capistrano
Escritor, professor de filosofia do IFRN.
www.pablocapistrano.com.br
Não sou adepto de doutrinas polianescas, daquelas que justificam as misérias da vida com um discurso “poderia ter sido pior”. Também não acho, como o velho Leibniz, que este é o melhor dos mundos possíveis. Não precisei ler o Cândido de Voltaire para saber que, nesse mundo, nem sempre os justos são felizes e que muitas vezes os puros de coração são destroçados pelos canalhas. No entanto, tenho que admitir depois da eliminação do Brasil para a Holanda nas quartas de final dessa Copa: “poderia ter sido pior”.
Nós poderíamos ter ganhado essa copa! Sim, imagine o que aconteceria se o Brasil fosse campeão derrotando, por exemplo, a Espanha, ou a Alemanha!!
Conta-se nas crônicas do futebol que duas seleções foram responsáveis por um tipo de crime bastante conhecido no mundo da bola: “o futibocídio”. Em 1954, por exemplo, a maravilhosa seleção Puskas foi derrotada debaixo de chuva pelo futebol pragmático do alemão Fritz Walter. A Alemanha, aliás, que é a maior das futibocídas da história, uma espécie de serial killer do futebol arte, poderia ser vítima essa copa de seu próprio veneno. A Hungria de 1954, a Holanda de 1974, a França de Platini e Tiganá que encantou o mundo em 1982. Todas essas seleções foram vítimas do pragmatismo germânico, da mecânica de um jogo que parece com futebol e que surpreendentemente funciona. Nós, brasileiros, fomos vitimas de outro futebocida. Em 1982 fomos abatidos pela Itália de Paolo Rossi.
O catenaccio italiano, posto em prática em 2010 por uma cosmopolita Internazionale de Milão, e elevado a paradigma do futebol de resultados pelos obtusos da bola, foi, para nós, o grande carrasco do futebol brasileiro pós 1970. Os próprios italianos reconhecem seu estilo e assumem sua posição de carrascos do futebol arte. O escritor italiano Ignácio Taibo costumava a dizer: “o catenaccio é a antiliteratura”. Jogando com um zagueiro na sobra, atrás de um muro de quatro homens plantados na defesa, o estilo futibocida dos italianos se baseava na ideia de que um time precisa jogar sem a bola, marcando e reduzindo os espaços do oponente de modo a, em um vacilo, roubar a pelota e ligar um contra ataque rápido através de lançamentos longos ou da velocidade de seus laterais.
Qualquer semelhança com o futebol da seleção de Dunga não é mera coincidência. O Brasil esse ano abdicou de algo que os Argentinos e os Espanhóis (até, de certo modo, os alemães de 2010!!!) sabem muito bem o que é. O futebol sul americano se firmou no mundo com um conceito oposto ao dos futebocidas europeus: manter a posse da bola, tocar, tocar, tocar, defender com a bola nos pés e atacar sempre. Assim o Brasil foi tri campeão mundial (podemos imaginar também que a copa de 2002 teve muitos momentos desse velho estilo de jogar), assim perdemos a copa de 1982 e 1986 e assim o Brasil se formou uma Seleção mítica.
Construímos nossa literatura futebolística com esse tipo de poesia que hoje outros times parecem tentar imitar. Imaginem o que aconteceria se encontrássemos um time na final, jogando desse modo, e fossemos campeões contra nosso próprio estilo de jogo? Em um futebol globalizado, em que as seleções se tornam todas iguais, flutuando em uma mesma mediocridade criativa e em uma covardia futebolística fundamental o Brasil sempre foi o diferencial. Nós éramos isso, nós tínhamos essa característica, esse romantismo que se configurava magicamente em nossos pés em resultados.
Há uma falsa discussão no Brasil, que diz que só há duas soluções para o futebol brasileiro: perder jogando como em 1982 ou ganhar jogando como em 1994. Essa é uma discussão suicida. Esquecemos que podemos de novo ganhar como em 1970. Cristalizamos 1970. Sacralizamos tanto aquela Seleção que acreditamos piamente ser impossível repetir aquilo. Esse é o nosso erro, a nossa mais desconcertante ironia: não sabemos mais como imitar a nós mesmos. Se a Seleção de Dunga ganhasse iriam surgir vozes na imprensa dizendo “O nosso futebol é prosa, não é poesia” (parafraseando o técnico italiano Giovanni Trapattoni). Me chame de porco multicuralista, eu não me importo. Ser patriota não é torcer pela Seleção brasileira, ser patriota é torcer pelo futebol que se joga no Brasil, uma marca de identidade que nos faz ser aquilo que nós somos e que de vez em quando amamos nos esquecer.
Pablo Capistrano
Escritor, professor de filosofia do IFRN.
www.pablocapistrano.com.br
Não sou adepto de doutrinas polianescas, daquelas que justificam as misérias da vida com um discurso “poderia ter sido pior”. Também não acho, como o velho Leibniz, que este é o melhor dos mundos possíveis. Não precisei ler o Cândido de Voltaire para saber que, nesse mundo, nem sempre os justos são felizes e que muitas vezes os puros de coração são destroçados pelos canalhas. No entanto, tenho que admitir depois da eliminação do Brasil para a Holanda nas quartas de final dessa Copa: “poderia ter sido pior”.
Nós poderíamos ter ganhado essa copa! Sim, imagine o que aconteceria se o Brasil fosse campeão derrotando, por exemplo, a Espanha, ou a Alemanha!!
Conta-se nas crônicas do futebol que duas seleções foram responsáveis por um tipo de crime bastante conhecido no mundo da bola: “o futibocídio”. Em 1954, por exemplo, a maravilhosa seleção Puskas foi derrotada debaixo de chuva pelo futebol pragmático do alemão Fritz Walter. A Alemanha, aliás, que é a maior das futibocídas da história, uma espécie de serial killer do futebol arte, poderia ser vítima essa copa de seu próprio veneno. A Hungria de 1954, a Holanda de 1974, a França de Platini e Tiganá que encantou o mundo em 1982. Todas essas seleções foram vítimas do pragmatismo germânico, da mecânica de um jogo que parece com futebol e que surpreendentemente funciona. Nós, brasileiros, fomos vitimas de outro futebocida. Em 1982 fomos abatidos pela Itália de Paolo Rossi.
O catenaccio italiano, posto em prática em 2010 por uma cosmopolita Internazionale de Milão, e elevado a paradigma do futebol de resultados pelos obtusos da bola, foi, para nós, o grande carrasco do futebol brasileiro pós 1970. Os próprios italianos reconhecem seu estilo e assumem sua posição de carrascos do futebol arte. O escritor italiano Ignácio Taibo costumava a dizer: “o catenaccio é a antiliteratura”. Jogando com um zagueiro na sobra, atrás de um muro de quatro homens plantados na defesa, o estilo futibocida dos italianos se baseava na ideia de que um time precisa jogar sem a bola, marcando e reduzindo os espaços do oponente de modo a, em um vacilo, roubar a pelota e ligar um contra ataque rápido através de lançamentos longos ou da velocidade de seus laterais.
Qualquer semelhança com o futebol da seleção de Dunga não é mera coincidência. O Brasil esse ano abdicou de algo que os Argentinos e os Espanhóis (até, de certo modo, os alemães de 2010!!!) sabem muito bem o que é. O futebol sul americano se firmou no mundo com um conceito oposto ao dos futebocidas europeus: manter a posse da bola, tocar, tocar, tocar, defender com a bola nos pés e atacar sempre. Assim o Brasil foi tri campeão mundial (podemos imaginar também que a copa de 2002 teve muitos momentos desse velho estilo de jogar), assim perdemos a copa de 1982 e 1986 e assim o Brasil se formou uma Seleção mítica.
Construímos nossa literatura futebolística com esse tipo de poesia que hoje outros times parecem tentar imitar. Imaginem o que aconteceria se encontrássemos um time na final, jogando desse modo, e fossemos campeões contra nosso próprio estilo de jogo? Em um futebol globalizado, em que as seleções se tornam todas iguais, flutuando em uma mesma mediocridade criativa e em uma covardia futebolística fundamental o Brasil sempre foi o diferencial. Nós éramos isso, nós tínhamos essa característica, esse romantismo que se configurava magicamente em nossos pés em resultados.
Há uma falsa discussão no Brasil, que diz que só há duas soluções para o futebol brasileiro: perder jogando como em 1982 ou ganhar jogando como em 1994. Essa é uma discussão suicida. Esquecemos que podemos de novo ganhar como em 1970. Cristalizamos 1970. Sacralizamos tanto aquela Seleção que acreditamos piamente ser impossível repetir aquilo. Esse é o nosso erro, a nossa mais desconcertante ironia: não sabemos mais como imitar a nós mesmos. Se a Seleção de Dunga ganhasse iriam surgir vozes na imprensa dizendo “O nosso futebol é prosa, não é poesia” (parafraseando o técnico italiano Giovanni Trapattoni). Me chame de porco multicuralista, eu não me importo. Ser patriota não é torcer pela Seleção brasileira, ser patriota é torcer pelo futebol que se joga no Brasil, uma marca de identidade que nos faz ser aquilo que nós somos e que de vez em quando amamos nos esquecer.
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