terça-feira, 16 de junho de 2009

ARTES VISUAIS/Mercado natalense

OBRAS DE ARTE PARA TODOS OS GOSTOS E BOLSOS

Jóis Alberto
Jornalista profissional

O mercado de artes plásticas ou artes visuais em Natal está em alta. Com cerca de uma dezena de galerias atuantes e profissionais, a capital potiguar tem um movimento no setor que nada deixa a dever a cidades maiores. Nesse sentido, transcrevo e atualizo, aqui, trechos de reportagem que escrevi para a revista Brouhaha número 8 em março/abril de 2007. Na ocasião visitei galerias, entrevistei marchands, galeristas e dirigentes culturais, num levantamento sobre a situação desse mercado, que até bem pouco tempo atrás parecia pequeno e restrito a poucos, mas que hoje se revela muito promissor e competitivo. Uma das tendências atuais do mercado é a do artista transformar seu ateliê em galeria de artes, como por exemplo o ateliê do artista Flávio Freitas, no bairro histórico da Ribeira. De olho num negócio que cresce não só pela democratização da arte, mas também à medida em que a cidade vive um crescente boom imobiliário, com edifícios residenciais e condomínios de alto padrão surgindo a todo momento, lojas de decoração de interiores também comercializam obras de arte, além de se registrar a abertura de galerias em alguns shoppings centers da cidade.
O perfil tradicional da clientela de artes visuais na cidade é formado principalmente por natalenses possuidores de um bom nível cultural e boa situação financeira, notadamente profissionais de classe média, como professores universitários, médicos, advogados. A esse público, somam-se outros, como pessoas que vêm de outros Estados e países em visita ou para fixar residência na cidade. Embora a maior parte dos turistas venham a Natal principalmente em busca de praias e lazer, muitos deles não se limitam apenas a comprar peças de artesanato, adquirem também arte naif regional e xilogravuras em visitas ao Centro de Turismo, em Petrópolis. É lá que desde a década de 80 está instalada a Galeria de Arte Antiga e Contemporânea, de propriedade do professor universitário Antônio Marques, um dos marchands e galeristas pioneiros da fase atual do mercado. Essa galeria tem obras de todos os estilos, predominando entretanto a arte regional, naif e sacra, em pintura, cerâmica, xilogravuras, com obras de artistas como a santeira Luzia Dantas; Iaperi Araújo, Assis Marinho, e do elogiado xilogravador J. Borges. (...)

PRINCIPAIS
GALERIAS DE ARTE

A Pinacoteca do Estado, as galerias da Fundação Capitania das Artes, do NAC – Núcleo de Arte e Cultura da UFRN e do Sesc de Natal (bairro Cidade Alta), são os mais atuantes espaços destinados à exibição de artes visuais na cidade. Instalada em prédio secular, de linhas neoclássicas e dois pavimentos, que durante muitos anos foi sede do Palácio Potengi, por onde passaram várias administrações do Governo do Estado, a Pinacoteca – que atualmente se prepara para passar por um processo de reforma do prédio – tem uma finalidade mais museológica do que os dois outros espaços citados, embora estes possuam também valiosos acervos. Localizada na Praça Sete de Setembro, Centro, a Pinacoteca reúne trabalhos de artistas locais e nacionais das fases pré-modernista, modernista e contemporânea. A pré-modernista, de caráter mais acadêmico, e que se caracteriza pela utilização de técnicas tradicionais como a de tinta a óleo sobre tela, com representações figurativas naturalistas, teve em Natal artistas como os pintores Joaquim Fabrício Gomes de Souza, Moura Rabelo, e o escultor Hostílio Dantas. Desta fase, a Pinacoteca conta com o quadro “Julgamento do Padre Miguelinho”, de Antonio Parreiras, artista carioca nascido em 1860 e falecido em 1937. Estudou na Academia Imperial de Belas Artes com Vitor Meireles. Outra obra de destaque é o óleo sobre tela “Augusto Severo e Sachet”, de Moura Rabelo, nascido em Natal em 1895 e falecido em 1979.
Da arte moderna nacional, a Pinacoteca conta com as litogravuras “Mastro”, de Alfredo Volpi, “Jardim com Figuras I ”, de Cícero Dias, e “Paisagem”, de Fayga Ostrower; a serigrafia “Louvor à natureza”, de Tarsila do Amaral ; a gravura em metal “Galo”, de Aldemir Martins. Da arte moderna local, a aquarela sobre papel “Bumba-meu-boi”, de Newton Navarro; o acrílico sobre tela “Casario”, de Dorian Gray Caldas, dentre outros. Da arte contemporânea, um acrílico com relevo “Sem título”, de Abraham Palatnik. No acervo da Pinacoteca, destacam-se ainda uma raridade da cultura internacional, o Budda do Laos, uma relíquia do final do século 12, procedente do Laos, na Ásia. A escultura é de chumbo e banhada em ouro, já desgastado em algumas partes. Foi doada pelo colecionador suíço Fritz Alain Gegauf, que residiu em Natal.
Dentre os espaços públicos de exposição de artes visuais – a Pinacoteca; o Solar Bela Vista, conquanto este espaço, a exemplo da Galeria do Sesc, seja administrado por instituições da iniciativa privada (Fiern/Sesi); a Galeria Conviv´art da UFRN e as Galerias da Fundação Capitania das Artes, a arte contemporânea está mais presente nas duas últimas, embora também realizem exposições de obras de arte que usam técnicas tradicionais e modernas. (...) A Conviv´art comercializa as obras expostas, mas o NAC não tem finalidade lucrativa. Em contrapartida, de acordo com Edital, solicita-se ao artista a doação de uma obra artística, com objetivo de compor o acervo de artes visuais da UFRN, administrado pelo NAC.


ARTE CONTEMPORÂNEA


Realizada geralmente sem objetivos comerciais, e muitas vezes questionando a própria finalidade lucrativa no setor, as artes visuais contemporâneas têm na Sala de Exposições da Casa da Ribeira o principal espaço expositor em Natal. O espaço cultural Casa da Ribeira foi fundado em março de 2001, com um trabalho na área teatral, do grupo Clowns de Shakespeare, mas desde o início já havia a idéia de abrir o espaço também para as artes visuais. De março a setembro daquele ano foram feitas algumas exposições, mas a arte exposta não estava provocando, instigando o público. A partir da exposição de arte contemporânea de José Rufino, que trabalha com instalações, materiais orgânicos, monotipia, refletindo sobre a memória perdida no Brasil, o público foi provocado, houve reação e participação da platéia. Desde então, a Sala de Exposições foi destinada exclusivamente à arte contemporânea. Importantes nomes da arte contemporânea do Brasil, vindos de outros Estados, como a artista mineira Rosângela Rennó, que trabalha com repropriação, mas que para a Casa da Ribeira fez uma videoinstalação, em 2005; a fotógrafa gaúcha radicada em São Paulo, Rochelle Costi, em 2003, quando fez um site specific, que é um projeto pensado para o espaço expositivo, com todas as fotos feitas em Natal; a carioca e radicada no Rio Grande do Sul Lia Menna Barreto, que encontrou no comércio popular do Alecrim, produtos com bonecas, panos de bandeja com renda, que foram prensados para o trabalho artístico. E mais: Eduardo Frota, Mauro Piva, Gil Vicente, dentre outros.
Alguns desses artistas se destacam em nível nacional e internacional. Rosãngela Rennó, por exemplo, vendeu em 2006 uma videoinstalação para o Tate Modern, principal museu de Londres. Como o segmento de arte contemporânea na cidade vem se profissionalizando e se atualizando com maior rapidez há poucos anos, a produção de arte visual contemporânea local ainda é pequena, mas reúne nomes muito atuantes e talentosos como Guaraci Gabriel, Sayonara Pinheiro, Isaías Ribeiro, João Natal, Selma Bezerra, Marcelo Gandhi e o sempre pioneiro J. Medeiros. Muito antes deles, o natalense Abraham Palatnik foi um dos fundadores das tendências contemporâneas nas artes plásticas no Brasil, como a arte cinética. Se Palatnik teve um dos seus trabalhos incompreendido na 1ª Bienal de Artes de São Paulo, nos anos 50, imagine qual seria a recepção da obra na Natal daquela época. Ainda hoje existe gente na cidade que vê com preconceitos muitas das propostas da arte visual contemporânea. (...)

FONTE: Trechos de matéria, de autoria do jornalista Jóis Alberto, publicada originalmente na revista Brouhaha (março/abril de 2007), da Fundação Cultural Capitania das Artes, órgão da Prefeitura de Natal.

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