segunda-feira, 6 de julho de 2009

REPORTAGEM – Crescimento do audiovisual em Natal


MERCADO LOCAL DO AUDIOVISUAL
ESTÁ EM EXPANSÃO

Jóis Alberto

Existe um pólo de cinema e vídeo em Natal? Se o critério de análise usado for a produção em escala industrial de filmes, a resposta evidentemente é não. Mas iniciativas como a produção crescente de documentários, a realização de cursos teóricos e práticos da sétima arte, além da promoção do FestNatal – Festival de Cinema e Vídeo de Natal, apontam para uma resposta afirmativa à questão. Natal tem grandes possibilidades de se tornar um pólo produtor da indústria do audiovisual (cinema e televisão). Alguns fatos recentes confirmam essa possibilidade. Um deles, foi a filmagem das Pelejas de Ojuara, longa metragem baseado em romance homônimo do escritor potiguar Nei Leandro de Castro, numa produção de Luiz Carlos Barreto e direção de Moacir de Góis. O filme, que conta com apoio da Prefeitura de Natal, além de outros órgãos públicos e empresas privadas, com Marcos Palmeira no papel título, teve locações em Natal e interior. Foi lançado no mercado exibidor em 2007.
O FestNatal, por sua vez, tem cumprido alguns objetivos relevantes para a divulgação do cinema brasileiro e também para a difusão das produções local e regional de filmes. Porém, a promoção do cinema nacional não se limita apenas a aumentar e consolidar espaço no mercado exibidor. É preciso também formar novos profissionais para o setor. Em Natal, esse papel tem sido cumprido atualmente por iniciativas do veterano documentarista Carlos Tourinho e pelo jornalista e produtor cultural Henrique José, da Zoon, ong cultural que em parcerias com instituições públicas e empresas privadas, têm realizado com êxito cursos teóricos e práticos de cinema. Nesse sentido, nos últimos meses, a Fundação José Augusto vem se destacando na promoção local de importantes eventos do setor.
Outro sinal positivo é o desenvolvimento do mercado exibidor comercial local, que voltou aos bons tempos, agora incorporando as mais recentes novidades no setor. Depois de um extenso período em que contou com um número reduzido de salas de cinema, em média de três a cinco, o que se deu principalmente entre as décadas de 70 até alguns anos atrás, em decorrência de vários fatores, como a massificação da TV, vídeo cassete, e novíssimas tecnologias como o DVD, Natal conta hoje com 14 salas de cinema, no conceito multiplex e instaladas em shoppings centers. Merece registro ainda a retomada, desde 2005, do movimento de cineclubismo, com o trabalho de divulgação de clássicos da sétima arte, feito pelo Cine Clube Natal.
Também tem contribuído para esse boom do audiovisual natalense o uso, cada vez mais acessível, de filmadoras digitais (miniDV e DVD), graças ao desenvolvimento científico e tecnológico nessa área. Na sociedade contemporânea, as relações entre arte e a ciência - no significado usual dos dois termos – ocorrem na medida em que as tecnologias usadas para a criação e a difusão artística, notadamente as do audiovisual – fotografia, cinema, vídeo, computador – são entendidas como conseqüências práticas do desenvolvimento científico. Ou seja, a técnica como o conjunto de procedimentos e recursos de que se serve uma ciência ou uma arte. Outra maneira de se entender essa relação entre arte e ciência, é nos reportando à pesquisa científica em arte enquanto tal, área de estudos que cresce nas universidades brasileiras.

FORMAÇÃO EM CINEMA E VÍDEO

O desenvolvimento sócio-econômico registrado em Natal nos últimos anos, impulsionado principalmente pela indústria do turismo, tema recorrente na pauta da imprensa local e nacional, na agenda do poder público e nos currículos das universidades, possibilitou igualmente o progresso cultural na cidade. Essa relação entre progresso da infra-estrutura e da superestrutura, aqui colocada não como um determinismo, mas como uma possibilidade realizada, torna-se mais compreensível, quando se analisa o desenvolvimento do cinema. Ou da indústria do audiovisual, este último um conceito contemporâneo afinado com a tendência de convergência tecnológica dos meios de comunicação de massa. Desde as primeiras décadas do século passado, quando a indústria cinematográfica se difundiu pelo mundo, que Natal tem acompanhado não só a evolução do mercado exibidor, com a construção de salas de cinema, mas também registrado algumas experiências natalenses de produção cinematográfica.
Levando-se em consideração o atual número de produções cinematográficas, a maioria documentários em curta-metragem de pequena duração, se não se pode falar em pólo cinematográfico, no sentido industrial do termo, isso não impede o surgimento de um circuito alternativo de produção e divulgação. O Ministério da Cultura, através do projeto Doc.TV, tem selecionado e apoiado algumas iniciativas do cinema documental potiguar, como o documentário Fabião das Queimadas, poeta da Liberdade, de Buca Dantas. O filme foi selecionado entre mais de 900 de todo o país e exibido em 2004 na mostra “DocTV – Brasil Imaginário”, do Minc e TV Cultura de São Paulo. Em 2006, o roteirista Paulo Laguardia foi o vencedor da terceira edição no Estado do DocTV, com documentário que retrata a história da cineasta potiguar Jussara Queiroz. Mais recentemente foi a vez da dupla de documentaristas de Natal, FábiodeSilva e Mary Land Brito, que recentemente dirigiram o documentário “Sangue do Barro” exibido no “DocTV” de 2009.
O documentarista Carlos Tourinho, que entre 2000 e 2004 foi diretor da ABD/RN (Associação Brasileira de Documentarista), seção do Rio Grande do Norte, vem realizando com frequência cursos de cinema em Natal, um dos quais com filmagens no Beco da Lama, tradicional reduto de boêmios, artistas e intelectuais natalenses, no centro da cidade. Tourinho, que começou como repórter cinematográfico nos anos 60, tendo trabalhado à época na TV Tupi e na Globo, além de ter sido diretor de fotografia no longa metragem potiguar Jesuíno Brilhante, de William Cobbett, tem um vasto currículo em cinema e televisão, com a direção de cerca de 30 curta-metragens, e desde 2000 passou a residir em Natal.
Segundo Tourinho, antes os cineastas em vídeo, ou melhor videomakers natalenses, usavam as tecnologias em vídeo analógicas em VHS, U-matic e Betacam. Comenta que os primeiros lançamentos de câmera de vídeo digital chegaram ao Brasil na segunda metade dos anos 90. Nessa época, o equipamento era muito caro. Somente nos últimos anos, a câmera de vídeo digital se popularizou, diz ele, que acredita na tendência de queda do preço. Na realidade, conforme ele assinala, filmadoras para cineastas amadores existem desde as primeiras décadas do século passado, em 8 mm, 9 mm e 16 mm. Nos anos 70, popularizou-se o uso da câmera super 8, “que é o tamanho 8 mm com uma área maior de impressão e exibição da imagem”. Já o repórter fotográfico Henrique José, um dos sócios da ZooN Fotografia, uma atuante ong cultural, explica que, buscando focar a atuação da Zoon para os limites além da arte fotográfica, iniciou ações de intercâmbio e parcerias para a difusão do audiovisual, seja através de oficinas em comunidades, seja com o Projeto Natal de Formação em Cinema e Vídeo, abrangendo palestras, mostra de filmes, capacitações, intercâmbios e produção.
FONTE: Trechos de reportagem, de autoria de Jóis Alberto, publicada em 2007 na revista Brouhaha, da Fundação Capitania das Artes, órgão cultural da Prefeitura de Natal.



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