sexta-feira, 6 de agosto de 2010

POESIA/ Texto de Floriano Martins

COSTELAS DE EMILE BRONTË


O teu sorriso ia desaparecendo no fundo de meu olhar.
Aos poucos já não distinguia os acenos de tua memória.
Eu disse que viria quando o sol te ensinasse a brilhar,
porém as nuvens foram me guiando para um outro ninho de escombros.
Um pequeno mercado de cicatrizes. Noite recostada em uma árvore.
A pele abandonando os cuidados com a vida que ainda guarda em si.
O tempo remodelando as sombras esquecidas sob os corpos.
A dor se aproxima como um raio. Já não escuto mais nada.
Deixo a tua mão sobre meu peito, sem saber ao certo o que ainda podes fazer por mim.
Livro-me por um segundo ou dois do mistério da morte,
mas logo recupero as vozes confiscadas por antigos presságios.
Jamais dissemos o nome do deus que faltou com sua palavra.
Aos poucos já não distinguia as cores de tua ausência.

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COSTILLAS DE EMILE BRONTË

Tu sonrisa iba desapareciendo en el fondo de mi mirada.
Al rato ya no distinguía los gestos de tu memoria.
Yo dije que vendría cuando el sol te enseñase a brillar,
sin embargo las nubes me fueron guiando hacia otro nido de escombros.
Un pequeño mercado de cicatrices. Noche recostada en un árbol.
La piel abandonando los cuidados con la vida que aun guarda en sí.
El tiempo remodelando las sombras olvidadas bajo los cuerpos.
El dolor se aproxima como un rayo. Ya no escucho más nada.
Dejo tu mano sobre mi pecho, sin saber de verdad lo que aun puedes hacer por mí.
Me libro por un segundo o dos del misterio de la muerte,
mas pronto recupero las voces confiscadas por antiguos presagios.
Jamás dijimos el nombre del dios que faltó con su palabra.
Al rato ya no distinguía los colores de tu ausencia.

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poema & fotografía | floriano martins
traducción | gladys mendía

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA/Física para poetas

Por Jóis Alberto


Física para poetas – Uma forma diferente de conhecer a Física” foi o título do mini curso, do qual eu participei dentro da programação geral da 62ª Reunião Anual da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada na semana passada (25 a 30/07/2010) no Campus central da UFRN, em Natal (RN). O curso foi ministrado pelo professor Adilson de Oliveira, da UFScar – Universidade Federal de São Carlos (SP) e contou com a participação de cerca de 30 inscritos, estudantes não só de Física mas também de outras áreas – como é o meu caso que atualmente concluo uma segunda graduação, desta vez em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas; e sou mestrando em Ciências Sociais, pela UFRN.
O mini curso teve como objetivo motivar o interesse pela Física, usando novas formas de divulgação científica. No caso, numa abordagem sem o uso de conceitos matemáticos profundos para mostrar que é possível motivar pessoas a entenderem Física, ao mesmo tempo que procura desmistificar o caráter de disciplina difícil e pouco atraente. O uso da metáfora foi um dos recursos metodológicos utilizados pelo professor, procurando sempre fazer uma conexão das idéias da Física com outras áreas do conhecimento, em particular a Arte e a Música, com uso de muitas imagens e sons no datashow da sala.
Ao final, foi feita uma avaliação do curso em questionário da SBPC, além de o professor ter aberto para comentários. Eu elogiei o mini curso, disse que o evento havia atendido às minhas expectativas, porém achei que faltou mais poesia criada por poetas, já que o professor usou muitas letras de música, em especial de Gilberto Gil e de Caetano Veloso, que, é claro, mais do que letristas, são dois grandes poetas contemporâneos. O professor justificou que o curso tem esse título, mas a intenção maior é de abordar essencialmente a Física, o que compreendi, afinal se prevalecesse a literatura teria que ter outro título: Poesia para Físicos, por exemplo... Sugeri alguns poetas brasileiros que abordam conceitos de matemática e física em alguns dos seus trabalhos. Recomendei, em especial, o nosso grande surrealista Murilo Mendes...
No Brasil, além do competente e talentoso professor Adilson de Oliveira, outros têm usado esse recurso de divulgação científica para um público mais amplo, dentre os quais um dos mais famosos é Marcelo Gleiser, a quem o professor Adilson de Oliveira – colunista no site do Instituto Ciência Hoje (http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/fisica-sem-misterio) nada deixa a dever. Na minha modesta opinião de estudante, outro nome que se destaca na divulgação científica para um público mais amplo, mais interdisciplinar, é do engenheiro e físico Luiz Pinguelli Rosa.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

POESIA/Um poema de Floriano Martins y Viviane Santana Paulo

L U V N I S


argolas de espera me arrastam
ou somos nós que as arrastamos? criamos estes aros ?
me solto do não saber do abandono para cair
no falso que invento todo esse tempo
e as pequenas formas do cotidiano que a gente não percebe
e que estão por aí tão leves vozes ao vento
a noite amiúda os truques de nossa busca
ou somos nós que nos despistamos?
ao mastigar a engrenagem dos ecos
deixamos que soletrem em nosso íntimo as imagens
que reservamos às ilusões mais comuns
a noite sussurra como uma lâmina em minha pele
e me desvio do real
para te encontrar iniciando as formas
grifando os pronomes diante dos verbos
não sou maiúscula me desfaço dos pontos e vírgulas
e me atiro no poço que a paixão enche
de querer de busca de sede de pressa
de dor de cabeça de naipes de coisa indecifrável
de inédito dito exorbitado demandamos
a farsa da lua que mostra algo outro
o perspectivo impostor das sombras
o embuste de nossos corpos distantes
trabalhamos árduos para sermos a antera desta
ilusão e as pequenas formas do cotidiano que a gente não percebe
e que estão por aí tão leves gota de suor de espera
de indagação se derramando nas teclas do pensado
e trago a tua voz para dentro da noite
para o centro da trama em que tudo se esquece
deixo tuas palavras crescerem no interior desse mundo perdido
o corpo descarnado da memória
a luz esmagada pelas sombras
as janelas retorcidas impedindo que qualquer coisa entre ou saia
trago a tua voz para que se revire toda
como a pedra inflamada de suores negros
e ouço o silêncio aflito dos móveis pela casa inteira
deixo a voz silabar vultos nos espelhos
não quero escutar a distância de nossos corpos
mas as raias da palma da mão coberta de palavras
sublinhando seu peso nas fendas do que criamos
colho a solidão de cada sala vazia
para desenhá-la no vaso sobre a cômoda do que não
se faz necessário
ou para ruminá-la com os aros os ecos o silêncio a distância
é preciso continuar dilatando os poros na pele das horas
resgatar as pálpebras fechadas ante o sentir
e deixar de flagrar no espelho a vida de um reflexo de lâmpada
acesa na calçada que continuou indiferente
minha pele se destaca assim abrindo um lírio dentro da noite
e vou buscar um novo sítio para a mobília extraviada
intuindo o cheiro com que se revelam as novas sobras do vivido
essa miudeza com que por vezes esquecemos de celebrar o instante
quantas vezes o verbo quer ir e vir de uma face a outra do abismo ?
quantas vezes dizemos às pequenas formas do cotidiano
que não se ausentem de si ?


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L U V N I S



argollas de espera me arrastran
o somos nosotros que las arrastramos? creamos estos aros?
me suelto del no saber del abandono para caer
en lo falso que invento todo este tiempo
y las pequeñas formas de lo cotidiano que no percibimos
y que están por ahí tan leves voces al viento
la noche aminora las trampas de nuestra búsqueda
o somos nosotros que nos despistamos?
al masticar el engranaje de los ecos
dejamos que deletreen en nuestro interior las imágenes
que reservamos a las ilusiones más comunes
la noche susurra como una lámina en mi piel
y me desvío de lo real
para encontrarte iniciando las formas
subrayando los pronombres delante de los verbos
no soy mayúscula me deshago de los puntos y comas
y me lanzo en el pozo que la pasión llena
de querer de búsqueda de sed de prisa
de dolor de cabeza de naipes de cosa indescifrable
de inédito dicho exorbitado
requerimos la farsa de la luna que muestra algo otro
lo perspectivo impostor de las sombras
el embuste de nuestros cuerpos distantes
trabajamos arduo para ser la antera de esta ilusión
y las pequeñas formas de lo cotidiano que no percibimos
que están ahí tan leves gota de sudor de espera
de indagación derramándose en las teclas de lo pensado
y trago tu voz hacia dentro de la noche
hacia el centro de la trama en que todo se olvida
dejo tus palabras crecer en el interior de ese mundo perdido
el cuerpo descarnado de la memoria
la luz oprimida por las sombras
las ventanas retorcidas impidiendo que cualquier cosa entre o salga
trago tu voz para que se revire toda
como la piedra inflamada de sudores negros
y oigo el silencio afligido de los muebles por la casa entera
dejo la voz silabear bultos en los espejos
no quiero escuchar la distancia de nuestros cuerpos
sino las rayas de la palma de la mano cubierta de palabras
subrayando su peso en las hendiduras de lo que creamos
tomo la soledad de cada sala vacía
para dibujarla en el vaso sobre la cómoda de lo que no
se hace necesario
o para rumiarla con los aros los ecos el silencio la distancia
es necesario continuar dilatando los poros en la piel de las horas
rescatar los párpados cerrados ante el sentir
y dejar de flagrar en el espejo la vida de un reflejo de lámpara
encendida en la calle que continuó indiferente
mi piel se destaca así abriendo un lirio dentro de la noche
y voy a buscar un nuevo sitio para el mobiliario extraviado
intuyendo el olor con que se revelan las nuevas sobras de lo vivido
esa pequeñez con que a veces olvidamos celebrar el instante
cuántas veces el verbo quiere ir y venir de una cara a otra del abismo?
cuántas veces dijimos a las pequeñas formas de lo cotidiano
que no se ausenten de sí?

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poema | floriano martins y viviane santana paulo
imágenes | floriano martins
traducción | gladys mendía
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quarta-feira, 21 de julho de 2010

LITERATURA/Poesia surrealista

Poeta Floriano Martins, um dos maiores divulgadores da poesia surrealista do Brasil e países de língua espanhola, participa de Feira Internacional do Livro, de Lima


Um dos grandes especialistas no Brasil em poesia surrealista e literatura de língua espanhola, o poeta e ensaísta cearense Floriano Martins, de Fortaleza, é um dos convidados da 15ª FIL- Feria Internacional del Libro 2010, que será realizada neste final de semana em Lima, Peru, numa promoção da Câmara Peruana do Livro. O evento reúne artistas e intelectuais do Peru, Brasil, Equador, México e Espanha. A abertura será às 20h do sábado (24/07/2010) com a mesa redonda “Cruzando fronteiras: oportunidades do mercado editorial”. Os trabalhos continuarão no domingo com conferência sobre a integração dos mercados editorais da América do Sul e exibição do vídeo “Secreta morada”, de Floriano Martins.
Autor do livro “O Começo da Busca – O Surrealismo na poesia da América Latina” (São Paulo: Escrituras, 2001), dentre outros títulos, Floriano Martins desenvolve um trabalho importantíssimo de divulgação da poesia em livros e na internet, como por exemplo a revista digital Agulha, que ele editou com o poeta Claudio Willer. Atualmente, além de participar com conferencista de eventos literários no Brasil e exterior, Martins coordena o projeto editorial Banda Hispânica, do Jornal de Poesia.
Dentre os poetas que participam da antologia “O Começo da Busca...”, destacam-se Aldo Pellegrini, César Moro, Juan Calzadilla, Raul Henao, Roberto Piva, Sérgio Lima – estes dois últimos figuram entre os mais cultos e criativos poetas surrealistas do Brasil. De Roberto Piva, recentemente falecido em São Paulo, publico aqui no blog um dos poemas dele que constam dessa bela antologia:

Poema vertigem


Roberto Piva


Eu sou a viagem de ácido nos barcos da noite
Eu sou o garoto que se masturba na montanha
Eu sou tecnopagão
Eu sou Reich, Ferenczi & Jung
Eu sou o Eterno Retorno
Eu sou o espaço cibernético
Eu sou a floresta virgem das garotas convulsivas
Eu sou o disco voador tatuado
Eu sou o garoto e a garota Casa Grande & Senzala
Eu sou a orgia com o garoto loiro e sua
Namorada de vagina colorida (ele vestia a
calcinha dela e dançava feito Shiva no meu corpo)
Eu sou o nômade do Orgônio
Eu sou a Ilha de Veludo
Eu sou a Invenção de Orfeu
Eu sou os olhos pescadores
Eu sou o Tambor do Xamã (& o Xamã coberto
De pele e andrógino)
Eu sou o beijo de Urânio de Al Capone
Eu sou uma metralhadora em estado de Graça
Eu sou a pomba-gira do Absoluto

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15ª FIL – Feria Internacional del Libro – Lima, Perú - 2010
Presencia de Floriano Martins (Brasil)


Sábado 24/07 – 20h00 - Sala de Usos Múltiples
BRASIL – ECUADOR – ESPAÑA – PERÚ
III Encuentro Nacional de Editores – Mesa redonda sudamericana
Cruzando fronteras: Oportunidades de mercado editorial
Participan: Floriano Martins, Fabián Luzuriaga, John Soldwedel
Organizan: Centro Cultural del España, Cámara Peruana del Libro, Embajada de Ecuador
Auspicia: Borrador Editores

Domingo 25/07 – 19h00 - 19h50 – Sala de Usos Múltiples
Conferencia: “Realidades y perspectivas de la integración de los mercados editoriales sur americanos

Domingo 25/07 – 20h15 - 21h15 – Sala Ciro Alegría
Presentación del video “Secreta morada”, de Floriano Martins (Brasil) y la banda sonora del grupo Cabezas de Cera (México) – Lectura de poemas con la participación de Grazia Ojeda del Arco
Conversatorio sobre libros y el Proyecto Editorial Banda Hispánica
Presentación de Escritura Conquistada - Conversación con poetas de Latinoamérica - tomos I y II
Participación de Hildebrando Pérez Grande

segunda-feira, 5 de julho de 2010

ARTIGO DE PABLO CAPISTRANO/Copa 2010

Poderia ter sido pior.


Pablo Capistrano


Escritor, professor de filosofia do IFRN.
www.pablocapistrano.com.br



Não sou adepto de doutrinas polianescas, daquelas que justificam as misérias da vida com um discurso “poderia ter sido pior”. Também não acho, como o velho Leibniz, que este é o melhor dos mundos possíveis. Não precisei ler o Cândido de Voltaire para saber que, nesse mundo, nem sempre os justos são felizes e que muitas vezes os puros de coração são destroçados pelos canalhas. No entanto, tenho que admitir depois da eliminação do Brasil para a Holanda nas quartas de final dessa Copa: “poderia ter sido pior”.
Nós poderíamos ter ganhado essa copa! Sim, imagine o que aconteceria se o Brasil fosse campeão derrotando, por exemplo, a Espanha, ou a Alemanha!!
Conta-se nas crônicas do futebol que duas seleções foram responsáveis por um tipo de crime bastante conhecido no mundo da bola: “o futibocídio”. Em 1954, por exemplo, a maravilhosa seleção Puskas foi derrotada debaixo de chuva pelo futebol pragmático do alemão Fritz Walter. A Alemanha, aliás, que é a maior das futibocídas da história, uma espécie de serial killer do futebol arte, poderia ser vítima essa copa de seu próprio veneno. A Hungria de 1954, a Holanda de 1974, a França de Platini e Tiganá que encantou o mundo em 1982. Todas essas seleções foram vítimas do pragmatismo germânico, da mecânica de um jogo que parece com futebol e que surpreendentemente funciona. Nós, brasileiros, fomos vitimas de outro futebocida. Em 1982 fomos abatidos pela Itália de Paolo Rossi.
O catenaccio italiano, posto em prática em 2010 por uma cosmopolita Internazionale de Milão, e elevado a paradigma do futebol de resultados pelos obtusos da bola, foi, para nós, o grande carrasco do futebol brasileiro pós 1970. Os próprios italianos reconhecem seu estilo e assumem sua posição de carrascos do futebol arte. O escritor italiano Ignácio Taibo costumava a dizer: “o catenaccio é a antiliteratura”. Jogando com um zagueiro na sobra, atrás de um muro de quatro homens plantados na defesa, o estilo futibocida dos italianos se baseava na ideia de que um time precisa jogar sem a bola, marcando e reduzindo os espaços do oponente de modo a, em um vacilo, roubar a pelota e ligar um contra ataque rápido através de lançamentos longos ou da velocidade de seus laterais.
Qualquer semelhança com o futebol da seleção de Dunga não é mera coincidência. O Brasil esse ano abdicou de algo que os Argentinos e os Espanhóis (até, de certo modo, os alemães de 2010!!!) sabem muito bem o que é. O futebol sul americano se firmou no mundo com um conceito oposto ao dos futebocidas europeus: manter a posse da bola, tocar, tocar, tocar, defender com a bola nos pés e atacar sempre. Assim o Brasil foi tri campeão mundial (podemos imaginar também que a copa de 2002 teve muitos momentos desse velho estilo de jogar), assim perdemos a copa de 1982 e 1986 e assim o Brasil se formou uma Seleção mítica.
Construímos nossa literatura futebolística com esse tipo de poesia que hoje outros times parecem tentar imitar. Imaginem o que aconteceria se encontrássemos um time na final, jogando desse modo, e fossemos campeões contra nosso próprio estilo de jogo? Em um futebol globalizado, em que as seleções se tornam todas iguais, flutuando em uma mesma mediocridade criativa e em uma covardia futebolística fundamental o Brasil sempre foi o diferencial. Nós éramos isso, nós tínhamos essa característica, esse romantismo que se configurava magicamente em nossos pés em resultados.
Há uma falsa discussão no Brasil, que diz que só há duas soluções para o futebol brasileiro: perder jogando como em 1982 ou ganhar jogando como em 1994. Essa é uma discussão suicida. Esquecemos que podemos de novo ganhar como em 1970. Cristalizamos 1970. Sacralizamos tanto aquela Seleção que acreditamos piamente ser impossível repetir aquilo. Esse é o nosso erro, a nossa mais desconcertante ironia: não sabemos mais como imitar a nós mesmos. Se a Seleção de Dunga ganhasse iriam surgir vozes na imprensa dizendo “O nosso futebol é prosa, não é poesia” (parafraseando o técnico italiano Giovanni Trapattoni). Me chame de porco multicuralista, eu não me importo. Ser patriota não é torcer pela Seleção brasileira, ser patriota é torcer pelo futebol que se joga no Brasil, uma marca de identidade que nos faz ser aquilo que nós somos e que de vez em quando amamos nos esquecer.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

FUTEBOL/Copa 2010

Lições de erros e acertos da seleção brasileira na “era Dunga”


Jóis Alberto


Hoje, 2 de julho de 2010, é um dia triste para o povo brasileiro. Na manhã deste dia, a seleção brasileira de futebol foi eliminada nas quartas de final para a seleção da Holanda, por 2 x 1, no estádio Nelson Mandela Bay, na cidade de Porto Elizabeth, África do Sul. Passado o grande impacto inicial da derrota, impacto e tristeza maiores porque o Brasil dominou o jogo no primeiro tempo, com 1x0, ao se analisar com mais calma os acertos e erros da equipe brasileira, se pode também traçar algumas perspectivas não só para compreensão dos esportes na era da comunicação digital, mas em relação ao planejamento para a Copa do Mundo de futebol no Brasil em 2014.

Diante da tradição de conquistas do futebol brasileiro em Copas do Mundo, pentacampeão mundial, falar dos acertos técnicos da equipe comandada por Dunga, seria redundante em relação ao que profissionais do futebol já comentaram na TV, rádio, jornais, revistas, internet e outros veículos de comunicação. Culpar isoladamente um jogador, no caso Felipe Melo, que nesse jogo passou da posição de herói – ele contribuiu com passe para o gol de Robinho -, para vilão, pois o mesmo Felipe Melo involuntariamente fez gol contra, numa indecisão fatal com o goleiro Júlio César, seria a reação emocional mais esperada, porém não considero a mais correta.

FIM DA “ERA DUNGA”


Fim da “era Dunga”? Para muitos, felizmente sim! Na minha opinião de torcedor, o grande problema da seleção brasileira nessa Copa 2010 foi a equipe não ter trabalhado melhor o psicológico, o emocional, para saber manter a calma, o auto-controle, nos momentos de maior tensão e nervosismo. Eu, que muitas vezes em situações de stress e nervosismo, perco o auto-controle, sei como é difícil manter a calma em situações como essa. Porém tenho consciência também que perder a calma não ajuda em nada. Foi o que aconteceu com o time brasileiro, principalmente após os lamentáveis erros de Felipe Melo, principalmente quando ele, Melo, após o Brasil estar perdendo de 2x1, ainda marcou uma falta e pisou com maldade na perna de um jogador holandês, sendo desse modo expulso do campo e deixando o Brasil com dez jogadores, numa situação ainda mais difícil. Não é dessa violência que o futebol brasileiro precisa.

O que precisa, então? Comprometimento? É óbvio que sim, porque se não tem esse comprometimento, tão alardeado por Dunga nas entrevistas à imprensa, não se tem o espírito de equipe. Os atletas jogaram com garra? De modo geral, sim. Com talento? Nem sempre... Na primeira partida, contra a Coréia do Norte, de quem o Brasil ganhou por um medíocre 2x1, eu consegui compreender esse placar, por causa principalmente do peso emocional da estréia, diante de um adversário que se fechava na defesa... Nas demais partidas, o desempenho mediano esperado dessa seleção, pelos mais realistas, pelo menos garantiu a classificação para as quartas de final... E foi por confiar demais no estilo mediano de Dunga e dos jogadores escalados por ele, exceção é claro de Robinho e Kaká, que mesmo não jogando o que sabe é superior a vários outros dessa seleção, foi confiando nisso que o Brasil perdeu, quando faltava pouco para alcançar as semi-finais.
Apesar do fracasso, é inegável que Dunga é um treinador com credenciais suficientes para ter ocupado o cargo de técnico da seleção brasileira, como comprovam algumas conquistas de campeonatos importantes que ele ostenta na biografia. Os grandes problemas dele foram a teimosia e o descontrole emocional... Agora, todavia, se eu fosse falar de craques que ficaram de fora seria fazer uma média que prefiro evitar, porque nesse momento, com a eliminação, ficou fácil argumentar nesse sentido... No entanto, é bem verdade que ele, Dunga, poderia ter sido mais flexível, refletido melhor e, quem sabe, o resultado hoje não tivesse sido diferente, se, por exemplo, ele tivesse atendido não só aos apelos de grande parte da torcida brasileira, mas também de profissionais do futebol que atuam na imprensa. Dunga, porém, preferiu correr o risco...
No final, qual o balanço conclusivo dos acertos e erros da seleção, do técnico e da comissão técnica em 2010? Na minha opinião, no geral Dunga e jogadores se saíram razoavelmente porque conseguiram levar o time até às quartas de final, numa Copa em que grandes favoritos foram eliminados nos primeiros jogos, como a França, em grande parte exatamente devido ao descontrole emocional, como no caso do técnico francês e seus jogadores, levando a equipe francesa a um descontrole ainda maior do que o de Dunga e seu time.

EXPECTATIVAS PARA A COPA 2014



Para a Copa de 2014, na qual a cidade de Natal está incluída, é torcer desde já que a seleção brasileira consiga manter o auto-controle na estréia e nas partidas decisivas após as oitavas de final... É saber se recuperar de desempenhos medíocres, como por exemplo foi o caso de Luís Fabiano, que não foi bem na estréia na Copa de 2010 e depois marcou gol; ter o talento do goleiro Júlio César; saber marcar bem, o que faltou entre os laterais escalados; ter o espírito combativo de um zagueiro como Lúcio, que mostrou combatividade, garra, virilidade, sem apelar para a pancadaria, como Felipe Melo, pancadaria que, na defesa, muitas vezes mais atrapalha do que ajuda, como se viu nesta partida de hoje. Dentre os jogadores que atuaram como meias gostei do desempenho de Elano e Kaká; e dos atacantes, Luís Fabiano e Robinho; Nilmar apenas razoável e, Grafite... Bom, esse é um enigma indecifrável... Só Deus sabe por que ele foi convocado!!!

Torço ainda para que Natal consiga, nesses próximos quatro anos, resolver o problema no trânsito da cidade, em especial aqui nessa área central onde moro, o Alecrim, cujo excesso de veículos em ruas estreitas e camelôs nas calçadas transformam o bairro num caos durante os dias úteis da semana...
E para finalizar um último comentário, como jornalista: é sobre o relacionamento de Dunga com a imprensa, em especial a Globo. Na entrevista em que ele, Dunga, murmurou insultos, captados nas imagens e um pouco no áudio, contra repórteres, considero que faltou prudência e humildade de ambos os lados... É lógico que um técnico, em especial ele, que foi jogador tetracampeão, conhece muito de futebol, da mesma forma que vários jornalistas que cobrem essa área e acabam se especializando...

Quanto a Galvão Bueno sempre tive uma opinião: ele é o melhor narrador esportivo da TV brasileira, de modo que ele é imbatível, diria mesmo insubstituível, quando atletas brasileiros saem vitoriosos em diversas modalidades, como futebol, automobilismo, vôlei, basquete, etc... O ruim em Galvão Bueno é quando equipes esportivas brasileiras estão perdendo... Aí é difícil suportar as lamentações dele, os comentários a eventos esportivos já esquecidos por muitos, a referência a superstições, e outras besteiras... Antes, o torcedor tinha que lamentar isso em casa, bares e outros espaços de lazer, com amigos e parentes... Hoje é diferente: fazem gozações que se tornam famosas, como fizeram com o próprio Galvão na internet, montando vídeos que correm o mundo pelo you tube... É a interatividade da era da comunicação digital... Uma época em que a Globo já não pode mais monopolizar sozinha as telecomunicações no Brasil, como fazia antigamente: além de concorrentes nacionais fortes na televisão, tem a concorrência de portais na internet, muitos deles sob o controle acionário de corporações estrangeiras, que por sua vez, não raras vezes veiculam um noticiário que parece torcer contra o Brasil, contra o nosso patriotismo, nossas tradições, nossos arquétipos mais profundos -, mas isso é outra história...
Enfim, futebol se faz com fé, garra, espírito esportivo, arte e ciência.... E, principalmente, muito talento e tranqüilidade, como nos tempos de ídolos inesquecíveis como Pelé, Didi, Garrincha, Gerson, Tostão, Rivelino, Jairzinho, Romário, Cafu, Bebeto, Tafarel, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

CINEMA E ANTROPOLOGIA/ Retrospectiva Jean Rouch

Começa exibição de curtas e longas do documentarista francês no Auditório SEBRAE em Natal

Começa nesta segunda-feira à noite (21/06/2010) uma ampla retrospectiva de curtas e longas do documentarista francês Jean Rouch (1917-2004), no prédio do Sebrae/RN em Natal. Ao todo a mostra é composta de 37 filmes, que serão exibidos em três sessões diárias – 15, 17 e 20h –, no perído de 21 a 26 de junho, no auditório do Sebrae, av. Lima e Silva, 76, Lagoa Nova, próximo ao estádio Machadão, em Lagoa Nova.
Segundo a professora Lisabete Coradini, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRN, Jean Rouch, mais conhecido como "antropólogo do cinema", notabilizou-se por um estilo que conjuga o cinema-verdade com um enfoque etnográfico, filmando em diversos países africanos.
De acordo com a professora Lisabete, essa é uma possibilidade de conhecer filmes raros do diretor, caso de Babatu, Os Três Conselhos, que, filmado em Níger, concorreu à Palma de Ouro em Cannes em 1976; e Funerais em Bongo: O Velho Anaï 1848-1971, filmado no Mali em 1972.
Um dos destaques da programação é o documentário Jean Rouch — O Primeiro Filme, de Dominique Dubosc. Feito em 1991, o filme dá oportunidade a que Rouch revisite e critique seu primeiro filme, No País dos Magos Negros (1946-1947).
O que já se disse: "A presente Retrospectiva Jean Rouch é um marco definitivo em direção à popularização de sua obra entre nós" (antropóloga Patrícia Monte-Mór)

PROGRAMAÇÃO

HOJE (21/06/2010):

Sessão Especial às 19 horas
Abertura dia 21 de junho às 20:15 h
Palestra : "Jean Rouch e Glauber Rocha : de um transe a outro" - Prof. Dr. Mateus Araujo Silva
(UFMG,França)


Engenheiro e doutor em letras, explorador e etnógrafo, Jean Rouch conhecia, desde menino, a obra de Flaherty e Murnau. Ligado ao Museu do Homem - Paris - centro de estudos de antropologia - começou a registrar suas observações etnográficas em filme, ainda nos anos 40, durante viagens à África. Em 1960 realiza, junto com sociólogo Edgar Morin, o filme Crônica de um verão (Chronique d' un été), apoiado em novos recursos técnicos como câmera leve, na mão e gravador de som direto (Nagra). Rouch também investiga possibilidades além das fronteiras do documentário, misturando procedimentos e influências da ficção no desenvolvimento de suas obras. Chama atenção a maneira como investiga a influência cultural do cinema no filme Eu, um negro (Moi, un noir). Os personagens, reais, "fazem de conta" que são atores conhecidos do cinema americano. Pela forma de apresentar esses mitos ficamos sabendo muito de seus sonhos, de sua visão de mundo e da sua cultura. A obra e as idéias de Jean Rouch tem fortes vínculos com o documentário brasileiro ligado ao Cinema Novo (anos 60), pois vários jovens brasileiros fizeram cursos de documentário no Museu do Homem.