sexta-feira, 7 de agosto de 2009

POESIA – Mais um poema de Mallarmé

BRISA MARINHA
(Brise marine)

Stéphane Mallarmé

A carne é triste e eu, ai! já li todos os livros,
Fugir! Fugir pra longe. Ouço as aves aos gritos
Ébrias na espuma ignota e sob o céu, em bando!
Nada, nem vãos jardins nos olhos se espelhando
Retém meu coração que se embebe de mar,
Oh noites! nem a luz da candeia a alumiar
O deserto papel que a brancura defende;
Nem mesmo jovem mãe que seu filho amamente.
Hei-de partir! Vapor em marítimas crises,
Iça o ferro e faz rumo a exóticos países,
Um Tédio triste, em cruel e inútil esperar,
Crê no supremo adeus dos lenços a acenar.
Que os mastros, porventura, atraindo presságios,
São os mesmos que um vento inclina nos naufrágios.
Soltos no mar, no mar, sem ilhas nem esteiros.
Mas ouve, coração, cantar os marinheiros.

FONTE: Antologia “Oiro de vário tempo e lugar (De São Francisco de Assis a Louis Aragon)”. Versão por A. Herculano de Carvalho. Porto-Portugal: O oiro do dia, 1983.

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