CHARLES BAUDELAIRE
A BELEZA
(La Beauté)
Eu sou bela, ó mortais, como espectro de pedra,
Meu seio, que buscais apertando-os com dor,
Fez-se para inspirar ao poeta um amor
Eterno e mudo assim como a própria matéria.
Sou, no trono do azul, incompreendida esfinge,
Tenho neve no peito e a cor do cisne é a minha;
Odeio o movimento que desmancha a linha,
E, do riso e do choro, a voz nunca me atinge.
Os poetas, ao ver-me as grandes atitudes,
Que pareço ir busca às catedrais gigantes,
Consumirão a vida em vãs tarefas rudes.
Pois tenho, pra encantar esses dóceis amantes,
Um espelho claro aonde as coisas são mais belas:
O olhar, meu vasto olhar, fulgurante de estrelas.
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